segunda-feira, 12 de março de 2007

A Ética nos Negócios e a Sustentabilidade

Em qualquer situação, ao escrevermos a expressão Ética nos Negócios, não levamos em consideração as regras descritas nos manuais de redação da língua portuguesa, porque nossa intenção é enfatizar e destacar a relevância que a Ética deve ter no contexto corporativo de qualquer empresa, independente de seu ramo ou porte.

Para nós, é a Ética nos Negócios o alicerce da gestão responsável que, necessariamente, deve englobar a Responsabilidade Ética, a Responsabilidade Social e a Responsabilidade Ambiental, o que chamamos de Tripla Responsabilidade Corporativa, pois tais responsabilidades são inseparáveis e até indistinguíveis, e somente o exercício dessas responsabilidades é que levará uma empresa a trilhar o caminho da tão sonhada Sustentabilidade. Além disso, a Ética nos Negócios é a principal ferramenta de aferição da atuação responsável de uma empresa.

Para falar sobre esse assunto nada melhor do que conversamos com uma das maiores estudiosas em Ética nos Negócios em nosso país.

O Blog Ética nos Negócios tem o prazer de receber a Profª Maria do Carmo Whitaker.

Sua formação acadêmica é impecável e sua experiência profissional invejável. Acesse seu currículo e veja como não estamos exagerando nem um pouco.

Como se não bastasse, a Profª. Maria do Carmo é escritora e seu mais novo trabalho foi recém lançado pela DVS Editora. Trata-se do livro Ética na Vida das Empresas Depoimentos e Experiências, no qual participou como coordenadora e autora de um artigo.

Blog: Obrigado por aceitar nosso convite. É uma satisfação para nós receber uma das maiores especialistas do país e, além de tamanho conhecimento e competência, você também é uma “Militante da Ética nos Negócios”. Queremos começar esse bate papo, pedindo para você falar sobre seu mais novo trabalho, o livro “Ética na Vida das Empresas Depoimentos e Experiências”. Fique à vontade!
Profª. Maria do Carmo: O objetivo do livro é compartilhar com empresários, administradores e profissionais que tenham interesse no desenvolvimento da gestão da ética e no treinamento de seus colaboradores, um material muito rico que, despretensiosamente, como relatarei, foi colhido no site que coordeno.
O livro consta de duas partes. A primeira se compõe de entrevistas, concedidas por renomados diretores de empresas, professores e consultores que transmitem suas experiências e demonstram como utilizar novas ferramentas no desenvolvimento da gestão da ética, da responsabilidade social e da sustentabilidade, nas diferentes instituições.
Os Ensaios constituem a segunda parte. São matérias redigidas por profissionais que revelam suas práticas sobre temas palpitantes e definem aqueles valores que dão sentido à suas vidas no contexto do trabalho.
Quanto mais a mídia notícia casos de fraude, corrupção e escândalo, seja na esfera pública, seja no âmbito privado, tanto mais aumenta a responsabilidade dos que acreditam que têm uma missão a cumprir e não se deixam levar pelos acontecimentos.
O que me moveu a publicar este livro foi a percepção de que não se pode presenciar de braços cruzados a situação de descalabro moral pela qual passamos. Assim, estou fazendo minha modesta contribuição, que, aliás, não é minha, é de todos os que forneceram os conteúdos para esta publicação, a quem agradeço com grande reconhecimento pelos seus trabalhos.

Blog: Você também é a responsável pelo Portal Academus que contêm uma área específica para a Ética Empresarial. Fale-nos sobre esse trabalho?
Profª. Maria do Carmo: O tema da ética nos negócios e nas empresas sempre me instigou. Paralelamente à outras atividades, coordeno o site Ética Empresarial, hospedado no Portal Academus e lá vou inserindo tudo que se refere à ética nos negócios e nas empresas, à responsabilidade social e à sustentabilidade. Iniciei entrevistando importantes empresários, dirigentes de empresas, professores, jornalistas e consultores que lidam com o tema, na tentativa de conciliar a sua experiência com os fundamentos acadêmicos que forneciam respaldo ao trabalho desenvolvido nas organizações.
Surgiram, além das entrevistas, os ensaios, as notícias, estudos de caso, monografias, sala de leitura, os códigos de ética de algumas entidades, as informações sobre eventos, as conexões de interesse, que estabelece um link com distintas entidades nacionais e estrangeiras envolvidas com esses assuntos. O conteúdo do site cresceu e ensejou o registro de um domínio diferente para o site de ética empresarial, que continua a integrar o Portal Academus. Foi esse material, despretensiosamente reunido, que tornou possível a edição do livro Ética na vida das Empresas Depoimentos e Experiências.

Blog: Foi uma surpresa para nós, saber como o Profº Silveira Bueno define a palavra Ética: “Parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade”. Qual seu entendimento a respeito dessa expressão para definir Ética?

Profª. Maria do Carmo: Prefiro adotar a definição de ética proposta pelo autor espanhol, Angel Rodriguez Luño. “Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade do agir humano; isto é considera os atos humanos enquanto são bons ou maus”. Parece-me mais apropriada e abrangente.

Blog: Qual a importância da Ética nos Negócios na vida das empresas? O que a Ética a significa para o sucesso e a perenidade da empresa? A Ética pode ser considerada a principal vantagem competitiva?
Profª. Maria do Carmo: A importância da ética nos negócios é, simplesmente, fundamental na vida das empresas. A ética certamente contribuirá para o sucesso e a perenidade da empresa, se houver competência administrativa, respeito pelos acionistas, consideração pelos colaboradores e a conquista de seu comprometimento. Se houver seriedade e intransigência no relacionamento com representantes dos órgãos governamentais, foco no cliente e a busca de sua satisfação. Se houver relação de parceria com os fornecedores, se houver, em suma, a busca sustentável do lucro.
Se a ética é uma vantagem competitiva? Sem dúvida a empresa, cuja imagem ética é reconhecida pelo mercado, tem vantagem em relação à outra cuja imagem foi lesada, por diversos problemas, como fraude, corrupção, assédio moral ou outra causa que destrói a sua reputação. O fato é que a ética está muito acima da imagem da empresa ou de sua boa reputação. A ética deve emergir de uma necessidade de seus fundadores, proprietários e administradores e não ser adotada como um valor externo, que está na moda, ou na pauta dos empresários e da mídia. A ética não pode ser instrumento que sirva de fachada para certas empresas que pretendem acobertar problemas institucionais ou de imagem.
Talvez seja possível dizer que, sendo a ética considerada fundamental na vida da empresa e que esta convicção se reflete na atitude das pessoas que a representam e nela trabalham, a vantagem competitiva venha por conseqüência.
Em certa oportunidade, uma jornalista me fez pergunta semelhante. Após ouvir a minha resposta, equivocadamente concluiu: se a ética dá lucro, então, vamos ser éticos... É o clássico exemplo da instrumentalização da ética e da inversão de valores.

Blog: Em sua opinião, qual a relação entre a Ética nos Negócios e a Sustentabilidade?
Profª. Maria do Carmo: Há grande relação entre ambos os conceitos. Mas, sem dúvida, a ética, por dizer respeito ao ser humano, à sua conduta, à sua consciência, às suas escolhas e às suas intenções, está, segundo meu modo de ver, acima da sustentabilidade, pois garante a dignidade da pessoa.
Se todos os cidadãos fossem éticos, provavelmente, a questão da sustentabilidade estaria resolvida. É preciso que haja solidariedade entre as pessoas, respeito ao meio ambiente, espírito empreendedor, trabalho sério, honradez e comprometimento. Com pessoas assim, seria perfeitamente possível praticar a sustentabilidade, no sentido de “satisfazer as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades”, como propôs a primeira ministra norueguesa., Gro Harlem Brundtland, nos idos de 1980.
Sob o ponto de vista corporativo poderíamos afirmar que a ética permite manter uma empresa socialmente responsável, economicamente viável e ecologicamente sustentável.
Blog: Recentemente, visando motivar o maior número de empresários, dirigentes e executivos na elaboração e adoção do Código de Ética em suas empresas, nossa instituição lançou a 1ª Pesquisa sobre Código de Ética Corporativo do Brasil, utilizando como banco de dados as 500 empresas de maior destaque no cenário nacional constante da tradicional publicação da Revista EXAME, As Melhores e Maiores (2006). Qual a importância de uma empresa elaborar e adotar um Código de Ética? Quais as vantagens e benefícios desse instrumento?
Profª. Maria do Carmo: A empresa que implanta o código de ética revela sua sensibilidade para com o tema, assegura a sua sobrevivência e agrega valor à sua imagem. A sua implantação supõe um verdadeiro processo. É preciso ter muito cuidado para que o código de ética seja, de fato, vivido por cada integrante da empresa, desde a alta administração até o chão de fábrica. É imperioso que haja consistência e coerência entre o que está disposto no Código de Ética e o que se vive na organização. Caso contrário, a existência de um código de ética formal, imposto apenas para cumprir exigência da matriz, ou de algum fornecedor, por exemplo, deporia contra a própria imagem da empresa e de seus responsáveis.
Mas, a empresa que adota um código de ética, por convicção de seus gestores, que sentem a necessidade de implantá-lo, envolvendo todos os seus integrantes, traz enormes benefícios. Como ensina a Profª Dra. Maria Cecília Coutinho de Arruda, fundadora do Centro de Estudos de Ética nas Organizações – CENE da FGV- EAESP, este documento tem inúmeras vantagens: fornece critérios ou diretrizes para que as pessoas se sintam seguras ao adotarem formas éticas de se conduzir; garante homogeneidade na forma de encaminhar questões específicas; aumenta a integração entre os funcionários da empresa e estimula o comprometimento deles; favorece ótimo ambiente de trabalho; desencadeia produção de boa qualidade, alto rendimento e por via de conseqüência, ampliação dos negócios e maior lucro. Além disso, protege interesses públicos e de profissionais que contribuem para a organização, facilita o desenvolvimento da competitividade saudável entre concorrentes, consolida a lealdade e fidelidade do cliente, atrai novos clientes e estimula fornecedores, colaboradores e parceiros a se conduzirem dentro de elevados padrões éticos.

Blog: Nessa inédita pesquisa também identificamos que muitas empresas em atuação no país não divulgam seu Código de Ética no web site corporativo do Brasil, entretanto, muitas delas, o fazem no site global, disponibilizando-o em vários idiomas, inclusive o português. A que se deve esse fato? Tem a ver com cultura corporativa de cada país? E como essa cultura empresarial do Brasil pode ser mudada?
Profª. Maria do Carmo: Aproveito esta oportunidade para cumprimentá-los pela excelente pesquisa realizada por essa instituição sobre códigos de ética corporativos.
No código de ética , em geral, estão expostos os deveres e obrigações tanto da empresa como de seus interlocutores “stakeholders”. Em alguns momentos, o código de ética poderá ser uma faca de dois gumes, poderá se voltar contra a empresa, quando ela, por meio de seus representantes, não sustenta o que escreveu em seu conteúdo. Pode ser que algumas empresas brasileiras não divulguem seu código de ética para o público geral, a fim de se precaverem ou para não se comprometerem. Tudo isso é suposição. Que tal incluir esta indagação às empresas, na próxima pesquisa que organizarem?

Blog: Para muitos, não é o Código de Ética que vai fazer com que uma empresa seja mais ou menos ética? Você concorda com essa afirmação?
Profª. Maria do Carmo: Concordo plenamente. Como você. mesmo afirmou, o código de ética é um instrumento e, como instrumento, serve para realizar a missão, visão e valores da empresa. Mas, existem outros instrumentos que podem atingir a mesma finalidade. Isto significa que para ser ética não é imprescindível que a empresa tenha um código de ética. O que importa é a cultura da empresa e as atitudes de todos os seus integrantes, da cúpula ao chão de fábrica. O que importa é que sejam preservados os seus valores, que não se permita transigência com os seus princípios. Importa, enfim, que se adote uma filosofia de trabalho que priorize a coerência entre o que se diz e o que se faz.

Blog: Para finalizar, quais seus conselhos para àqueles executivos ou empresários que desejam adotar o Código de Ética em suas empresas?
Profª. Maria do Carmo: A empresa é um campo muito fértil para desenvolvimento de posturas éticas. De fato, sendo a realidade humana a própria fonte da ética, o convívio entre pessoas provenientes de diferentes segmentos da sociedade e com formação diversa, é um campo propício para a criação de valores e princípios que atingem os negócios.
Em vista disto, aconselho aos empresários e executivos que desejam implantar código de ética em suas empresas, que aproveitem toda a riqueza que cada integrante da empresa carrega potencialmente e deflagrem o processo, reunindo as idéias e sugestões dessas pessoas. É claro que antes disso devem ter delineado estrategicamente um plano de fixação da missão, visão e valores que a empresa deseja definir para si.
Um conselho final: não adotem código de ética se não estiverem plenamente convencidos de sua necessidade e de que eles devem servir de inspiração para as pessoas e não, de instrumento de pressão.

Blog: O Blog Ética nos Negócios agradece sua participação. Foi uma honra para nós. Obrigado Profª Maria do Carmo Whitaker.
Profª. Maria do Carmo: Agradeço o convite e a divulgação do livro

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