sexta-feira, 25 de maio de 2007

As versões da Gol

Acompanhamos nesta terça-feira (22/5) o incidente com o Boeing 737 da Gol Linhas Aéreas (vôo 7486 – São Paulo/Montevidéu) que teve problemas na turbina esquerda logo após a decolagem, trazendo pânico a bordo, e depois dos procedimentos padrões pertinentes a situação de não emergência, retornou ao Aeroporto Internacional de São Paulo (Cumbica - Guarulhos), aterrissando com total segurança e sem maiores transtornos.

Ocorre que, num primeiro momento, a Gol se negou a prestar qualquer tipo de informação sobre o incidente, atitude, a princípio, prudente até o comandante da aeronave passar todos os detalhes à direção da companhia.

Na manhã do dia seguinte a Gol enviou à imprensa a versão oficial sobre o ocorrido:

"A GOL Transportes Aéreos informa que o vôo 7486, que decolou na noite de ontem de Guarulhos com destino a Montevidéu, no Uruguai, precisou retornar ao aeroporto de São Paulo depois que um pássaro entrou em uma das turbinas da aeronave. Não houve interrupção do funcionamento da turbina, e o pouso em Guarulhos foi feito em condições normais".

No entanto, com base no relatório preliminar da análise técnica realizada pela Infraero no Boeing acidentado, o superintendente regional, Edgar Brandão Júnior, contrariou integralmente a versão apresentada pela Gol, ao afirmar:

“A avaliação técnica mostrou que não teve qualquer problema com um pássaro e deve ter tido algum problema com uma peça do motor da turbina”.

Após esse fato, a Gol divulgou “nova” nota à imprensa:

(...) retornando ao aeroporto de origem após a turbina do lado esquerdo apresentar um stoll de compressor, devido à provável ingestão de um corpo estranho em algum momento da operação do motor – chamas no escape da turbina são observadas em ocorrências deste tipo (...)

(...) A Companhia está enviando a turbina para uma das empresas homologadas no exterior para as avaliações e reparos necessários, e dentro de 90 dias receberá laudo técnico do ocorrido (...)

Na realidade, o que a Gol deixa transparecer é sua opção, em passar para a opinião pública, uma versão menos traumática com o objetivo de amenizar um possível novo desgaste em sua imagem, sem levar em consideração que incidentes aéreos são inerentes a toda e qualquer companhia aérea, mesmo seguindo todos os procedimentos e padrões internacionais de manutenção e segurança, como é o caso, sem dúvida alguma, da Gol Linhas Aéreas.

A nosso ver, além de ser uma estratégia muito arriscada, a atitude tomada acabou contrariando o próprio Código de Ética da Gol que “reúne os princípios éticos e os parâmetros que devem orientar as ações dos colaboradores e terceiros quanto à coerência de sua conduta, tanto interna como externamente. Tais princípios devem nortear o comportamento da Gol Linhas Aéreas Inteligentes S/A e suas subsidiárias e coligadas, em todas as iniciativas”, inclusive no Capítulo II - Relacionamento com Clientes é imperativo:

Art. 2º. - Os clientes devem ser atendidos com educação, cortesia e respeito, devendo as informações ser prestadas de forma rápida, clara, precisa e transparente, com igualdade de tratamento, sem distinções movidas por interesses ou sentimentos pessoais.

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